E para terminar o mês em que celebrámos o aniversário de J. R. R. Tolkien, e após explorarmos o que caracteriza os géneros do Horror e da Ficção Cientifica, nada melhor do que partir à descoberta do último grande género de literatura: a Fantasia. Fantasia é “sinónimo de imaginação”, e a literatura fantástica caracteriza-se por obras em que o autor “segue a sua imaginação, sem se sujeitar à verdade ou às regras” [Dicionário Priberam da Língua Portuguesa]. Assim, é uma literatura sem limites, onde tudo o que o ou a autor(a) possa imaginar e criar, e tudo em que nós, enquanto leitores, quisermos acreditar, é sempre possível. Já dizia Dr. Seuss: "Fantasy is a necessary ingredient in living, it's a way of looking at life through the wrong end of a telescope, and that enables you to laugh at life's realities." Por isso, tanto em Mundos completamente distantes do nosso como em sociedades actuais com um pingo de magia, a literatura de fantasia permite-nos explorar a nossa própria realidade, reflectir sobre a dicotomia entre o Bem e o Mal e tudo o que está entre esses dois pontos. Mas em vez de teorizarmos sobre o que caracterizam estes livros que adoramos, vamos passar à prática e falar já das nossas 5 escolhas neste género. Mais uma vez, como sempre nesta rúbrica, é apenas uma pequena parte deste enorme Mundo fantástico mas acho que já nos dá um bom ponto de partida. Não contando com “The Chronicles of Narnia” (que já lemos) e com o livro deste mês “The Name of the Wind” (que tal vai essa leitura?), vamos então avançar para algumas opções: 1) Não podíamos não começar com um nome que marca um género tão completamente – J. R. R. Tolkien. Considerado por muitos como o pai da fantasia, génio criador de Mundos e linguagens e mitos, os seus livros, de tão detalhados e completos, quase nos parecem como realidade. Entre o The Hobbit ou o The Lord of the Rings, têm muitas páginas para se entreterem. 2) E como importante marco da minha infância – toda a colecção Harry Potter, de J. K. Rowling. Porque quantos de nós não aguarda ainda a carta de Hogwarts via coruja? Uma escola cheia de magia que parece estar aqui tão perto, um conto de crescimento e amizade e aventuras incríveis. 3 ) Não podíamos deixar de lado uma colecção que adoramos aqui no Especulatório – The Mistborn Series, de Brandon Sanderson. Para já, ainda só li a primeira trilogia mas mal posso esperar por atacar os restantes livros. Uma sociedade governada por um ditador misterioso e heróis com poder sobre os metais, o Final Empire vai sofrer uma revolução que vai mudar a sua própria essência. 4) E voltando a um autor clássico deste género - David Eddings. Com várias séries de livros, das quais destacamos The Belgariad e The Malloreon. Uma viagem difícil e complexa, que se desenvolve numa história maior que a vida e nos chega cheia de detalhes. Um conjunto de livros completamente "must-read". 5) E para a nossa escolha portuguesa - As Crónicas de Allarya, de Filipe Faria. Uma aventura que começou quando o autor tinha ainda 16 anos, avançou por 8 volumes e dá-nos a oportunidade de conhecer heróis, criaturas maléficas, impérios poderosos, num tempo em que toda a tranquilidade deste Mundo vai ser perturbada. Com todas estas opções, esperamos ter-vos dado mais ideias para as vossas leituras dos próximos meses. Daqui para a frente iremos partir à descoberta de sub-géneros da literatura especulativa. Vêm connosco? Boas leituras fantásticas! M.I.S.
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Mais um ano, mais oportunidades imperdíveis. Porque não começar 2016 a apoiar um projeto muito interessante? No Kickstarter descobri a novela gráfica “Root & Branch”, o primeiro volume da autoria de Pink Pitcher. Conta a história de uma jovem elfo – Ariana –, cuja família e comunidade têm vivido longe do resto do Mundo. Mas chega a altura em que ela tem de partir numa aventura e descobrir mais sobre o que a rodeia. Descobri este livro completamente por acaso mas ainda não consegui parar de ler. Sim, porque ele está totalmente disponível online aqui. Foi um trabalho inicialmente lançado em Março de 2015 e que tem vindo a ganhar mais e mais seguidores ao longo do tempo. Mas agora a autora quer dar o próximo passo e conseguir a publicação desta história. O primeiro volume traz-nos o início do conto, introduz-nos as principais personagens e o Mundo que Ariana está a começar a explorar. Incluí 116 páginas a cores, desenhadas e pintadas à mão, e incluirá também 5 páginas completamente novas, nunca antes vistas! Com ainda 20 dias no calendário, ainda vamos todos a tempo de contribuir! Sabe mais aqui sobre todo o processo e, claro, sobre as recompensas que te esperam! Colaborem com esta missão, uma oportunidade de apoiarem novos autores e novas histórias a chegarem a cada vez mais leitores. M.I.S. Imagem: de autoria de Pink Pitcher (escritora e artista) Bem, já faz um tempo desde que publicámos uma crítica. Pois bem, vamos começar de novo e agora vão ser sempre nas segundas terças-feiras de cada mês, para vos dar alento na vossa leitura do livro do clube de leitura. Este mês estamos a ler o “The Name of the Wind”, de Patrick Rothfuss. Como vão as vossas leituras? Tenho de admitir que não foi um livro que me tenha agarrado do princípio ao fim, daqueles que não conseguia pousar durante horas, embora não saiba explicar o porquê. A história, na maioria do tempo contada em estilo de autobiografia pelo outrora famoso e agora recluso músico e mágico Kvothe, leva-nos numa aventura na primeira pessoa que revela um estilo de escrita bastante extraordinário. Com breves interrupções ao longo da conversa, é Kvothe quem conta a sua história, quem tem dificuldade por vezes em explicar ou recontar determinada situação, quem decide o que conta ou o que deixa de fora. O facto de vivermos a vida da personagem central quase desde o seu início, acompanhando-o na infância e na adolescência, por momentos difíceis e conturbados mas também por situações de sucesso e felicidade, torna todo o livro em algo bastante íntimo e pessoal, envolto num mistério obscuro. Talvez por isso não me tenha sido tão fácil criar uma ligação imediata a esta obra, por ser algo quase idêntico a um diário que não tens a certeza se deverias estar a folhear. Mas mesmo com alguma reticência, nunca consegui deixar o livro de lado, lendo de pouco em pouco, descobrindo e querendo descobrir sempre mais sobre o que se segue, querendo desvendar um mistério aliado a mitos e lendas contadas em canções: “When the hearthfire turns to blue, what to do? what to do? run outside, run and hide. When his eyes are black as crow? where to go? where to go? near and far. Here they are. See a man without a face? move like ghosts from place to place. whats their plan? whats their plan? Chandrian. Chandrian” Sem contar muito do que a história vos guarda, recomendo a todos que dêem uma oportunidade a esta história, que vos leva desde um acampamento sempre em andamento para uma grande cidade cheia de vícios e recantos até a uma universidade onde a magia impera. Porque, afinal de contas, quem não quer descobrir o nome do vento? M.I.S. São muitas vezes as primeiras frases ou parágrafos que nos agarram imediatamente e, mesmo quando não acontece esse “enamoramento” imediato, são estas primeiras palavras que nos dão logo um cheirinho do que poderá estar para vir, nos permitem olhar pela janela do que nos espera, por mais vagas ou incompreensíveis que possam parecer à primeira leitura. No início de mais um ano, em que começamos a escrever as nossas primeiras frases, não há altura mais perfeita para olhar para o início daqueles livros favoritos. Basta lermos as primeiras palavras, escritas pela mão de J. K. Rowling, em Harry Potter e a Pedra Filosofal, para nos afastarmos imediatamente imediatamente do Mundo muggle, por muito que os Dursley’s nos queiram forçosamente demonstrar a sua (inexistente) normalidade, e começarmos logo a ponderar que coisas misteriosas e estranhas ( e mágicas) andam por aí: «Mr. and Mrs. Dursley, of number four, Privet Drive, were proud to say that they were perfectly normal, thank you very much. They were the last people you'd expect to be involved in anything strange or mysterious, because they just didn't hold with such nonsense» Ou lermos o início de O Senhor dos Anéis – a Irmandade do Anel, de J. R. R. Tolkien, para começarmos a pensar no que são os Hobbits e em que aventuras nos vão levar que nos vão permitir conhecer o seu verdadeiro carácter: «This book is largely concerned with Hobbits, and from its pages a reader may discover much of their character and a little of their history.» Admito, a primeira frase do primeiro capítulo em si vem mesmo a calhar para uma altura de festas de ano novo, cheias de resoluções e divertimento e expectativa do que estará por vir: «When Mr Bilbo Baggins of Bag End announced that he would shortly be celebrating his eleventy-first birthday with a party of special magnificence, there was much talk and excitment in Hobbiton» E já que estamos a celebrar o mês de Tolkien, com o seu aniversário no passado dia 3 de Janeiro, não podíamos deixar de falar daquela que vejo como uma das melhores introduções, em O Hobbit: «In a hole in the ground there lived a hobbit. Not a nasty, dirty, wet hole, filled with the ends of worms and an oozy smell, nor yet a dry, bare, sandy hole with nothing in it to sit down on or to eat: it was a hobbit-hole, and that means comfort.» Logo aqui começamos a questionarmo-nos: afinal quem é este Hobbit que vive num buraco (porquê um buraco?) e que inicia toda a história? Mas claro, há aqueles inícios que simplesmente nos fazem pensar: We’re doomed! Estamos fritos! Claro, estou a falar de O Marciano, de Andy Weir: «I’m pretty much fucked. That’s my considered opinion.» Se isto não significa o desastre à espreita, não sei o o faz! (E admitam, é que todos pensamos quando fazemos listas de resoluções de ano novo que começam a ficar demasiado grandes e começamos a desconfiar que não vão sair do papel =D ). Estando a falar de livros que já lemos desde o início desta aventura que é o Especulatório, não podia deixar de fora uma visão completamente desvairada do universo: «Far out in the uncharted backwaters of the unfashionable end of the western spiral arm of the galaxy lies a small unregarded yellow Sun.» Faz-nos pensar na nossa insignificância no universo (afinal de contas, estamos na zona fora de moda e despercebida dos recantos da galáxia) e, face a esse facto, que aventures imprevisíveis nos poderão efectivamente acontecer. Mas claro, tudo vai suceder da forma mais alucinante possível no The Hitch Hicker’s Guide to the Galaxy, de Douglas Adams. Uma outra colecção que adoro absolutamente e que começou o meu gosto por Urban Fantasy, chega-nos pela caneta de Karen Marie Moning. Darkfever começa com a promessa de que o que se irá seguir não será fácil… e ficamos logo desejosos de perceber o porquê: «My philosophy is pretty simple – any day nobody’s trying to kill me is a good day in my book.» Que voltas tem a nossa vida de dar para chegarmos a esta resolução?! A trilogia Mistborn, de Brandon Sanderson, inicia-se com uma imagem cinzenta de um mundo desconhecido. É uma frase simples e directa mas faz-nos querer descobrir mais sobre aquela realidade: «Ash fell from the sky» Um livro que li em 2015 e que me surpreendeu imenso, por retratar um universo tão diferente, com personagens centrais tão rodeadas de sensualidade, começa com um aviso: nem tudo é o que parece, e um bom início não significa um percurso sem precalços. Falo de Kushiel's Dart, de Jacqueline Carey: «Lest anyone should suppose that I am a cuckoo’s child, goto n the wrong side of the blanket by lusty peasant stock and sold into indenture in a shortfallen season, I may say that I am House-born and reared in the Night Court proper, for all the good it did me.» Voltando à Urban Fantasy, uma história que tem um início no mínimo insólito: «The first time I encountered Death, I hurled my mother’s medical chart at him. As far as impressions went, I blew it, but I was five at the time, so he eventually forgave me. Some days I wished he hadn’t – particularly when we crossed paths on the Job.» Grave Witch, de Kalayna Price, marca o início de uma trilogia (por enquanto, que diz-se que o quarto livro está em construção) com triângulos amorosos, outros Mundos e uma Morte muito interessante. E por fim, um dos meus livros favoritos dos últimos tempos - Uprooted, de Naomi Novik - leva-nos a conhecer uma floresta cheia de segredos e criaturas negras, num mundo cheio de magia. «Our dragon doesn’t eat the girls he takes, no matter what stories they tell outside our valley. We wear them sometimes, from travelers passing through. They talk as though we were doing human sacrifice, and he were a real dragon. Of course that’s not true: he may be a wizard and immortal, but he’s still a man, and our fathers would band toguether and kill him if he wanted to eat one of us every tem years. He protects us against the Wood, and we’re grateful, but not that grateful.» Sim, as primeiras frases levantam-nos imediatamente questões e dão-nos um cheirinho, por mais disfarçado, do que está para vir. Diferentes frases, diferentes janelas que nos oferecem os primeiros vislumbres, diferentes aventuras. Mas um mesmo resultado: uma inescapável incapacidade de pousar o livro antes do fim, de ir dormir antes do amanhecer, antes de descobrir o que vem a seguir. Por essa razão, e seguindo o exemplo dado pelas extraordinárias frases que marcam o início de um livro, o meu desejo para todos é que estes primeiros dias do ano sejam apenas o início de muitas aventuras ao virar da página! M.I.S. |