Esta rubrica da secção Especular partiu de um desejo pessoal de passar para o papel (neste caso virtual) tudo o que já li, e ouvi, em inúmeros livros, podcasts, workshops e entrevistas sobre escrita criativa.
É, portanto, uma rubrica bastante egoísta, mas que, espero eu, sirva de inspiração, motivação ou ajuda a outros escritores amadores que por aqui passem. Espero conseguir tocar em tópicos como a geração de ideias, hábitos de escrita, desenvolvimento de personagens ou a criação de conflitos interessantes. Tudo isto pode parecer muito técnico, ou até profissional, mas deixem-me desde já relembrar-vos que, não só não sou profissional do ramo literário, como nem sequer estudei uma área que se aproxime de tal (a não ser que relatórios e artigos científicos contem como literatura! Espero que não!). Sou apenas uma escritora sonhadora com ambições de um dia conseguir finalmente acabar um livro. Agora que já estão todos avisados, quero começar este "guia" com as três ideias que mais me inspiraram a recomeçar a escrever nos últimos anos:
Podem discordar à partida de tais informações, mas deixem-me pelo menos tentar convencer-vos. Claro que ter ideias e inspiração, e especialmente sorte, é óptimo! Mas vamos ser honestos, nem sempre tal acontece. Durante muito tempo senti uma enorme vontade de voltar a escrever sem saber muito bem sobre o quê, nem como. Achei que me faltavam as ideias, ou talvez a inspiração, para tal. Mas a verdade é que, se existem alturas em que sentimos claramente a presença da "musa" e as palavras jorram perfeitas para a página, outros dias temos simplesmente que nos obrigar a sentar o rabo na cadeira e escrever, por muito que não nos apeteça. Pelo que diz o Stephen King (e ele há-de certamente saber melhor que nós), quando acabarem a edição desse vosso primeiro rascunho, os vossos leitores não vão dar pela diferença. E a verdade é que as ideias são baratas! Quanto mais escrevemos mais ideias nos surgem. Basta começarmos a prestar mais atenção ao que nos rodeia para novas ideias aparecerem. Claro que há ideias melhores que outras, mas um bom escritor pode agarrar em más ideias e escrever uma óptima história! Basta verem o exemplo do escritor Jim Butcher que, numa workshop sobre escrita, apostou que conseguia escrever um bom livro baseado em duas ideias terríveis. As ideias sugeridas por um dos presentes foram "Pokémon" e a "Legião Romana Desaparecida". E daí nasceu a sua série de Fantasia "Codex Alera". Ter muitas ideias é também importante para não cairmos no erro de as tratarmos como algo de valioso e sacrossanto. Senão como teremos a coragem de experimentar e trabalhar novas técnicas de escrita com as nossas preciosíssimas ideias? E não há nada mais importante que praticar. Alguém um dia disse "É primeiro preciso escrever um milhão de palavras para se ser um bom escritor". Aparentemente ninguém sabe ao certo quem foi o autor de tal afirmação, nem a citação exacta, mas é o sentimento que conta. Portanto, toca a escrever! Há quem diga que podemos encarar a escrita como qualquer outra arte cénica. Quanto mais praticarmos mais a nossa escrita se torna instintiva. Tal como um acrobata não está a pensar nas leis da física envolvidas na execução de um triplo mortal, também nós podemos aprender a escrever bem instintivamente. Não é a inspiração ou a sorte que faz com que o acrobata caia de pé no final do exercício, é a prática. Por isso pratiquem para que as vossas histórias caiam sempre de pé, e com nota máxima! Por último, qualquer um de nós pode aprender a ser um bom escritor, se estivermos dispostos a investir o tempo e o trabalho necessários. E não sou só eu que o digo - afinal quem sou eu senão apenas uma sonhadora com vontade de escrever - mas autores como David Farland. Todos nós ouvimos as mais variadíssimas histórias no nosso dia-a-dia, de amigos, familiares, colegas. Se prestarmos atenção às que mais nos cativam - a mensagem que o locutor tenta passar, a pessoas envolvidas, o cenário - podemos assim aprender como melhor desenvolver as nossas próprias histórias. Claro que os cursos de escrita criativa, os livros, os podcasts ou os painéis com escritores também ajudam. Mas temos que estar preparados para investir o nosso tempo, suor e lágrimas (e quem sabe, sangue), quer queiramos ser escritores profissionais ou apenas escrever bem pelo gozo que isso nos dá. O meu rabo está firmemente assente na cadeira e os meus dedos estão preparados para sangrar (q.b.). E vocês? Para acabar em grande deixo-vos com um excerto de "On Writing" de Stephen King. "You can approach the act of writing with nervousness, excitement, hopefulness, or even despair—the sense that you can never completely put on the page what’s in your mind and heart. You can come to the act with your fists clenched and your eyes narrowed, ready to kick ass and take down names. You can come to it because you want a girl to marry you or because you want to change the world. Come to it any way but lightly. Let me say it again: you must not come lightly to the blank page. I’m not asking you to come reverently or unquestioningly; I’m not asking you to be politically correct or cast aside your sense of humor (please God you have one). This isn’t a popularity contest, it’s not the moral Olympics, and it’s not church. But it’s writing, damn it, not washing the car or putting on eyeliner. If you can take it seriously, we can do business. If you can’t or won’t, it’s time for you to close the book and do something else. Wash the car, maybe." "On Writing - A Memoir of the Craft", Stephen King Que vos sirva de inspiração!
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