Existem tantos “tipos” de escritores como existem pessoas, já que cada um de nós escreve à sua maneira.
No entanto, a maioria dos autores descreve uma escala que varia entre os chamados “Jardineiros” ou “Pantsers” – que tendem a descobrir a sua história à medida que a escrevem – e os “Arquitectos” ou “Plotters” – que esboçam e planeiam todos os acontecimentos antes de os escreverem. Não existe apenas uma maneira de escrever uma história, mas é importante falarmos desta escala de tipos de escritores, já que existe uma colecção de técnicas que todos devemos experimentar de forma a encontrarmos as ferramentas certas para nós. Os Jardineiros escrevem normalmente melhor sem muita estrutura ou restrições, aborrecem-se se já tiverem um plano do que vão escrever, porque já sabem o que vai acontecer e sentem que já escreveram esta história e querem já passar à próxima. Stephen King é um exemplo deste tipo de escritor, já que na sua opinião nunca se deve usar um esboço prévio. Mas lá porque este tipo de escritor não planeia o que vai escrever previamente, não quer dizer que fiquem à espera da “Musa”! Como diz o Stephen King, têm que se obrigar a sentar na cadeira para escrever, mesmo sem saber muito bem para onde vão. Uma das grandes vantagens de partir à descoberta da vossa escrita é porque muitas vezes as ideias fluem de forma mais espontânea, tudo parece mais real. Também tem a vantagem de vos obrigar a escrever, mesmo que não saibam o quê. Pode ser excelente para desbloquear a vossa escrita. Claro que também tem os seus contras. Normalmente os “Jardineiros” tendem a rever muitas vezes, porque quando chegam ao segundo capítulo descobrem mais umas quantas coisas sobre a sua história, e voltam atrás para voltar a rever e a editar. A solução aqui é mesmo desligar o editor interno! Obriguem-se a continuar e a deixar as revisões para o fim. Quem escreve sem um plano pode ter algumas falsas partidas, e as primeiras coisas que escrevem não vão ser utilizáveis para a vossa história. Mas se reconhecerem o problema, usem isso a vosso favor e utilizem esse trabalho de escrita (que, no fundo, é sempre prática que ganham) para descobrirem novas ideias sobre as vossas personagens, o vosso mundo e o vosso enredo. Depois, arquivem esses parágrafos, e comecem de novo agora já com alguma noção da história que vão contar. Outro grande problema para escritores “Jardineiros” é escrever um bom final, porque não sabem para onde vão, e só quando lá chegam é que sabem o que vai acontecer. Regra geral isso apenas quer dizer que vão precisar de um segundo rascunho para melhor conseguirem tecer na história os fios que levam ao vosso final espectacular. A revisão pode ser mais dramática, mas apenas precisam de identificar todas as promessas que foram fazendo aos vossos futuros leitores para as conseguirem satisfazer no vosso final. Se tiverem alguns problemas com isto, peçam aos vossos amigos (escritores ou não) para lerem a vossa história e vos ajudarem a “brainstorming” o final. Para quem está habituado a planear antecipadamente a sua história mas gostaria de experimentar o método dos “Jardineiros”, tentem fixar apenas um ou outro detalhe da vossa história, e usar essa rede de apoio para partirem à descoberta e ver onde a vossa história vos leva! Falando agora dos “Arquitectos”, como por exemplo Orson Scott Card, estes escrevem melhor se souberem qual é o objectivo da sua história e qual é a sequência de eventos prevista. Existem diferentes tipos de esboços possíveis mas, regra geral, vão dividindo os objectivos em passos mais pequenos de modo a irem construindo a sua história antecipadamente. Uma das grandes vantagens deste planeamento todo é que acabam com finais que convergem num grande momento explosivo, em que todos os fios se juntam numa tapeçaria espectacular. Claro que também tem os seus problemas. Um dos quais é a chamada “Worldbuilder’s Disease”, que se traduz em quererem sempre continuar a construir o vosso mundo, e todos os pequenos detalhes das vossas personagens, até à exaustão, e nunca mais passarem ao resto da história. Estabeleçam um tempo pré-determinado para desenvolverem o vosso mundo e depois forcem-se a seguir em frente e escrever a história. Os “Arquitectos” tendem também a passar mais tempo a detalhar todo o esboço e depois escrevem o livro em si num instante. Claro que o problema é que depois não querem voltar atrás e rever tudo o que já escreveram. Querem é passar ao próximo projecto. A solução passa sempre por se obrigarem a sentar, reler e rever toda a vossa história, porque apesar de todo o planeamento do mundo, ela vai sempre precisar de alguns ajustes. Para quem não costuma planear grande coisa e gostaria de experimentar de modo a melhorar a sua escrita têm várias hipóteses. Podem sentar-se e escrever um resumo geral da vossa história (descobrindo à medida que vão escrevendo) ou fazer uma lista de tópicos que refiram os vários eventos que devem acontecer. Depois é só agarrarem em cada tópico ou parágrafo e começarem, passo a passo, a desenvolver cada cena. De certeza que aqui vão descobrir novas ideias, possivelmente mais interessantes que as que tinham anotado originalmente. Sintam-se sempre à vontade para mudar o vosso plano inicial – afinal de contas é um guia da vossa viagem e não uma estrutura fixa e inalterável. Quando tiverem uma sequência de cenas mais ou menos desenvolvidas vão de certeza encontrar buracos nas vossas histórias, sítios onde precisam de uma cena para vos levar do ponto A ao B, ou onde precisam de demonstrar consequências ou antecipar o vosso final. Lembrem-se sempre que a maioria de nós situa-se algures no meio desta escala. Há quem prefira descobrir as suas personagens mas ter um esboço detalhado do seu enredo, ou descobrir o início da história e, depois de saber para onde vai, planear o resto do caminho. Como se costuma dizer, no meio é que está a virtude, e é sempre bom tentar usar ambos os métodos de modo a termos o melhor dos dois mundos. Deixo-vos esta semana com o desafio de se sentarem, analisarem que tipo de escritor acham que são, e depois tentarem usar o método oposto de escrita. Se não experimentarem todas as técnicas disponíveis podem não saber o que estão a perder. Boas escritas e até para a semana! C.S.
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