Agora que agarraram nas vossas boas ideias e as transformaram numa história podem estar a perguntar-se: “Será a minha história original o suficiente?“
Normalmente a originalidade vem da combinação de duas ideias pré-existentes, de uma maneira que nunca ninguém se lembrou de juntar. E uma boa maneira de o fazer é combinar uma ideia banal com uma ideia extraordinária – o familiar e o estranho – algo normal que vos atraia, que já conhecem, mas que tenha algo estranho. Por exemplo, o normal pode ser uma história passada numa escola (algo que todos conhecemos) e o extraordinário pode ser os Professores serem extraterrestres/vampiros/*inserir ser paranormal da vossa escolha*. O extraordinário pode também ser algo que seja familiar, mas que quando inserido na vossa história, se torne estranho. Têm que se lembrar que algumas pessoas definem "génio" como alguém que agarra em duas áreas de estudo, bastante normais, e os junta para criar um novo campo de uma forma que ninguém se lembrou antes. Por isso, também vocês podem agarrar em duas ideias bastante normais e as juntar numa maneira bastante original! Há que ter a noção que algumas ideias que em tempos foram extraordinárias podem agora já ser consideradas banais. Por exemplo, depois da série da Buffy, os livros do Twilight e uma série de mangas, hoje em dia numa história passada num liceu é quase expectável que existirão seres sobrenaturais. Por isso há que ter cuidado para não utilizarem a mesma justaposição de ideias normais-sobrenaturais que já foram usadas - ou usá-las conhecendo o risco de poderem já ser muito batidas! E para saber se o vosso bizarro se está a tornar o normal no mundo literário têm que saber o que por aí anda, o que está a ser publicado e o que o público anda a ler, ou a ver. Às vezes o que vos parece original pode não ser original o suficiente! Podem ter que levar a vossa ideia um pouco mais longe! Mas não desesperem! É sempre possível criar uma nova história interessante com ideias que já foram usadas, se quiserem, se gostarem muito da ideia e se a souberem contar de uma forma interessante! É sempre melhor escreverem algo pelo qual estão apaixonados! Também podem usar essa ideia que já foi bizarra – por exemplo, o liceu com seres sobrenaturais - para ser a vossa ideia normal, e juntarem-lhe outra ideia ainda mais estranha. E há que lembrar que se algumas pessoas preferem 99% familiar e 1% estranho – é possivelmente por isso que a literatura romântica parece tão uniforme, porque os leitores assim gostam! – outras pessoas podem querer 70% original e 30% familiar – como é normalmente o caso dos fãs de ficção científica. Depende muito dos leitores. Há normalmente um maior número de pessoas a quererem uma proporção mais equitativa de original e familiar, mas só vocês podem decidir para quem querem escrever! Atenção que no mundo da ficção especulativa pode existir o problema de originalidade a mais - se a história for passada numa sociedade de tal forma futurista em que as personagens já não são de alguma forma identificáveis para os leitores, em que não conseguem estabelecer uma relação com as mesmas. No entanto pode ser uma história muito interessante do ponto de vista da criação do mundo e como ensaio sobre o futuro. Só vocês sabem que história querem escrever! Desde que conheçam os problemas em serem demasiado familiares ou demasiado originais, decidam que história gostariam de contar e escrevam-na! É sempre possível darem demasiada importância à originalidade da vossa história. Existem livros que foram considerados muito originais pelos seus leitores porque nunca antes tinham lido nada assim, mas que para outras gerações de leitores foram trabalhos derivativos dos clássicos - por exemplo Eragon para uma geração de leitores foi um livro espectacularmente original e para outraa geração foi a mesma história que já haviam lido noutras obras. Às vezes aquilo que consideramos original pode ser apenas o primeiro exemplo daquele tipo de conto que lemos. E o facto de a vossa história não ser 100% original pode ser bom! Se existe uma audiência para livros como o vosso, será certamente mais fácil chamar leitores para a vossa história! Eles já sabem que gostam dessa ideia, por isso vão querer ler mais histórias passadas nesse tipo de mundo! Depois de tantos prós e contras, não se esqueçam: Escrevam a história que querem ler! Haverá sempre alguém que a quererá ler! Agora sentem-se e escrevam! C.S. (Faltam 14 dias para o fim do NaNoWriMo - não interessa quantas palavras vos faltam! Continuem a escrever!) Para escrever uma história são precisas mais do que algumas ideias soltas.
Por muito boas que sejam, só por si não fazem um conto com principio, meio e fim. Hoje vamos falar do passo seguinte nesta jornada criativa. O que fazer quando têm uma ideia? Como tornar essa ideia numa boa história? O primeiro passo será procurar o conflito gerado pela vossa ideia. Pode ser um conflito entre diferentes personagens, ou talvez um choque entre a vossa personagem principal e o mundo onde ela se insere. O que interessa é que alguém tem que estar em sofrimento (literal ou figurativo), alguém terá o dia arruinado por essa excelente ideia. Têm que perceber como a vossa ideia vai afectar as diferentes classes de pessoas no mundo, quem é que tem mais a perder ou a ganhar com este problema? De que forma é que a vossa ideia impacta o mundo ou o enredo? Todos estes pontos são boas formas de criar conflitos nas vossas histórias. Agora que criaram vários pontos de tensão têm que decidir como eles se vão resolver. Encontrem várias soluções possíveis para os problemas que criaram às vossas personagens, e decidam qual faz mais sentido para a vossa história, qual é a mais original e, particularmente, qual é o caminho que gera ainda mais conflitos, de modo a acabarem com uma boa história para contar. Muitas vezes encontrar o problema que ainda não conseguem resolver pode ser a melhor história, aquela que vai ser mais interessante de contar. Porque se vocês não conseguem solucionar o problema à primeira, de certeza que os vossos leitores também não vão conseguir. E se essa história é interessante para vocês, também o será para outros. Possivelmente por esta altura vão ter que decidir que tipo de história querem contar, e como querem que ela acabe, de modo a melhor "planearem" o caminho das vossas personagens. Claro que não precisam de saber todos os passos nessa viagem! Se tiverem boas ideias de personagens e souberem onde eles começam a jornada, comecem a escrever diálogo e deixem as vossas personagens indicarem-vos o caminho. Muitas vezes ajuda anotarem todas as ideias que geraram até agora. Há quem organize as várias ideias por tópicos - personagens, mundo, enredo - para melhor descortinar as ligações entre entre elas. Podem simplesmente escrever um resumo da vossa história para tentarem perceber como as várias ideias se interligam. Para algumas pessoas ajuda tentar contar a história a alguém, para solidificar a história na vossa cabeça ou talvez até descobrir para onde ela vai. Até podem chegar à conclusão que ainda não conseguem explicar a vossa ideia, que se calhar precisam de trabalhar nela um pouco mais. As reacções do outros, ou as perguntas que vos colocam podem ser bastante relevantes no desenvolvimento da vossa história. Uma sessão de brainstorming com outros escritores sonhadores pode ajudar a evoluir a ideia e descobrir quais são as questões mais interessantes a colocar. O que interessa é que no final do dia tenham criado uma história interessante para contar. Agora sentem o rabo na cadeira e escrevam! (Faltam 21 dias para o fim do NaNoWriMo - Não percam a motivação!) C.S. Em honra ao NaNoWriMo, até ao final do mês esta secção será (quase) exclusivamente dedicada à escrita criativa.
E um dos grandes problemas em começar uma história é muitas vezes a falta de (boas) ideias. Sendo assim hoje vamos falar da geração de ideias para as nossas histórias. Alguns autores argumentam que as ideias são baratas, mas muitas vezes na rotina do dia-a-dia torna-se difícil ter espaço criativo mental para gerar novas ideias. A primeira coisa a fazer é encontrar um espaço e um tempo para darmos asas à imaginação. Pode ser tomar um banho de imersão, dar um passeio longo, ir ao ginásio, fazer viagens longas ou ouvir música. O que interessa é que dês oportunidade ao teu inconsciente de trazer para o consciente algumas das questões, eventos ou personalidades que já lá ficaram retidos. Onde quer que estejas olha à tua volta. Por vezes são os sítios por onde passamos todos os dias que serão os catalisadores da nossa história. Lê! Não só no género que queres escrever mas também noutros géneros literários. Nunca sabes de onde virá a inspiração. Da mesma maneira, usa os filmes que vês e a música que ouves como inspiração. Talvez porque encontraste uma ideia espectacular com que também queres brincar ou porque encontraste uma ideia excelente mas que achas que foi mal aproveitada e consegues fazer melhor. Não tenhas medo de "roubar" dos vários meios de entretenimento. Estamos rodeados deles todos os dias, por isso porque não aproveitá-los como inspiração? Utiliza as conversas que ouviste nos transportes, na fila de espera do supermercado ou enquanto bebias o teu café. Quem sabe não encontras a fala perfeita para despoletar a tua criatividade? Se ainda não tens um caderno de ideias (ou uma aplicação no smartphone onde apontar notas), arranja! Sempre que tenhas uma ideia, por muito parva que possa parecer, anota-a. E descobre onde tens mais ideias - quando estás a adormecer, a conduzir, no duche, enquanto fazes limpezas, na viagem diária para o trabalho - e depois certifica-te que tens sempre sítio para apontar todas as ideias que te vieram à cabeça. Muitas vezes quando passamos as nossas ideias para o papel tudo fica a fazer mais sentido. Geralmente para gerar ideias só é preciso teres um problema e tentar chegar às várias soluções. Isso é na sua base a criatividade. Se a tua primeira solução ou ideia não te motivar a escrever, tentar levá-la ao próximo nível até encontrares algo que te inspire a escrever. Da mesma maneira que podes usar o entretenimento actual para te inspirar, tenta pesquisar por inovações científicas ou tecnológicas e pergunta-te: o que poderia correr mal com esta nova tecnologia? As notícias são também uma boa forma de geração de ideias, pois por esse mundo fora há acontecimentos interessantes que podem ser uma boa base de partida para a tua narrativa. A História do nosso mundo pode também ser um bom ponto por onde começar. Pega num evento histórico que te desperte curiosidade e imagina o mundo se o desfecho tivesse sido diferente. O recontar de mitos ou contos de fadas pouco conhecidos pode também dar uma óptima história original. Uma boa técnica quando não sabes por onde começar é fazer uma lista de ideias que gostas, por exemplo dos livros ou filmes que adoras, escreve-as em pequenos pedaços de papel e depois tira à sorte uma mão cheia de ideias e parte à descoberta! Uma forma mais tecnológica de fazeres o mesmo é utilizares uma aplicação de smartphone ou um dos muitos websites que existem por aí, para gerar writing prompts ou inícios de ideias. O que tens que te lembrar é que quanto mais escreveres mais ideias terás. E quantas mais ideias tiveres, maior a probabilidade de algumas delas serem mesmo boas! Por isso, se ainda não sabes o que escrever, quer estejas a participar no NaNoWriMo ou não, espero que consigas tirar daqui algumas dicas para chegares àquela grande ideia! Para a semana estaremos de volta com mais ideias. Agora senta-te e escreve! (Faltam 28 dias para o fim do NaNoWriMo - Quantas palavras ainda te faltam?) C.S. Esta rubrica da secção Especular partiu de um desejo pessoal de passar para o papel (neste caso virtual) tudo o que já li, e ouvi, em inúmeros livros, podcasts, workshops e entrevistas sobre escrita criativa.
É, portanto, uma rubrica bastante egoísta, mas que, espero eu, sirva de inspiração, motivação ou ajuda a outros escritores amadores que por aqui passem. Espero conseguir tocar em tópicos como a geração de ideias, hábitos de escrita, desenvolvimento de personagens ou a criação de conflitos interessantes. Tudo isto pode parecer muito técnico, ou até profissional, mas deixem-me desde já relembrar-vos que, não só não sou profissional do ramo literário, como nem sequer estudei uma área que se aproxime de tal (a não ser que relatórios e artigos científicos contem como literatura! Espero que não!). Sou apenas uma escritora sonhadora com ambições de um dia conseguir finalmente acabar um livro. Agora que já estão todos avisados, quero começar este "guia" com as três ideias que mais me inspiraram a recomeçar a escrever nos últimos anos:
Podem discordar à partida de tais informações, mas deixem-me pelo menos tentar convencer-vos. Claro que ter ideias e inspiração, e especialmente sorte, é óptimo! Mas vamos ser honestos, nem sempre tal acontece. Durante muito tempo senti uma enorme vontade de voltar a escrever sem saber muito bem sobre o quê, nem como. Achei que me faltavam as ideias, ou talvez a inspiração, para tal. Mas a verdade é que, se existem alturas em que sentimos claramente a presença da "musa" e as palavras jorram perfeitas para a página, outros dias temos simplesmente que nos obrigar a sentar o rabo na cadeira e escrever, por muito que não nos apeteça. Pelo que diz o Stephen King (e ele há-de certamente saber melhor que nós), quando acabarem a edição desse vosso primeiro rascunho, os vossos leitores não vão dar pela diferença. E a verdade é que as ideias são baratas! Quanto mais escrevemos mais ideias nos surgem. Basta começarmos a prestar mais atenção ao que nos rodeia para novas ideias aparecerem. Claro que há ideias melhores que outras, mas um bom escritor pode agarrar em más ideias e escrever uma óptima história! Basta verem o exemplo do escritor Jim Butcher que, numa workshop sobre escrita, apostou que conseguia escrever um bom livro baseado em duas ideias terríveis. As ideias sugeridas por um dos presentes foram "Pokémon" e a "Legião Romana Desaparecida". E daí nasceu a sua série de Fantasia "Codex Alera". Ter muitas ideias é também importante para não cairmos no erro de as tratarmos como algo de valioso e sacrossanto. Senão como teremos a coragem de experimentar e trabalhar novas técnicas de escrita com as nossas preciosíssimas ideias? E não há nada mais importante que praticar. Alguém um dia disse "É primeiro preciso escrever um milhão de palavras para se ser um bom escritor". Aparentemente ninguém sabe ao certo quem foi o autor de tal afirmação, nem a citação exacta, mas é o sentimento que conta. Portanto, toca a escrever! Há quem diga que podemos encarar a escrita como qualquer outra arte cénica. Quanto mais praticarmos mais a nossa escrita se torna instintiva. Tal como um acrobata não está a pensar nas leis da física envolvidas na execução de um triplo mortal, também nós podemos aprender a escrever bem instintivamente. Não é a inspiração ou a sorte que faz com que o acrobata caia de pé no final do exercício, é a prática. Por isso pratiquem para que as vossas histórias caiam sempre de pé, e com nota máxima! Por último, qualquer um de nós pode aprender a ser um bom escritor, se estivermos dispostos a investir o tempo e o trabalho necessários. E não sou só eu que o digo - afinal quem sou eu senão apenas uma sonhadora com vontade de escrever - mas autores como David Farland. Todos nós ouvimos as mais variadíssimas histórias no nosso dia-a-dia, de amigos, familiares, colegas. Se prestarmos atenção às que mais nos cativam - a mensagem que o locutor tenta passar, a pessoas envolvidas, o cenário - podemos assim aprender como melhor desenvolver as nossas próprias histórias. Claro que os cursos de escrita criativa, os livros, os podcasts ou os painéis com escritores também ajudam. Mas temos que estar preparados para investir o nosso tempo, suor e lágrimas (e quem sabe, sangue), quer queiramos ser escritores profissionais ou apenas escrever bem pelo gozo que isso nos dá. O meu rabo está firmemente assente na cadeira e os meus dedos estão preparados para sangrar (q.b.). E vocês? Para acabar em grande deixo-vos com um excerto de "On Writing" de Stephen King. "You can approach the act of writing with nervousness, excitement, hopefulness, or even despair—the sense that you can never completely put on the page what’s in your mind and heart. You can come to the act with your fists clenched and your eyes narrowed, ready to kick ass and take down names. You can come to it because you want a girl to marry you or because you want to change the world. Come to it any way but lightly. Let me say it again: you must not come lightly to the blank page. I’m not asking you to come reverently or unquestioningly; I’m not asking you to be politically correct or cast aside your sense of humor (please God you have one). This isn’t a popularity contest, it’s not the moral Olympics, and it’s not church. But it’s writing, damn it, not washing the car or putting on eyeliner. If you can take it seriously, we can do business. If you can’t or won’t, it’s time for you to close the book and do something else. Wash the car, maybe." "On Writing - A Memoir of the Craft", Stephen King Que vos sirva de inspiração! |
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