Esta semana queremos falar-vos de um projecto novo que descobrimos nas nossas viagens por esse mundo virtual fora - Storium: um cruzamento entre um role-playing game e um exercício de escrita criativa colaborativa.
Não tendo ainda começado a jogar em Storium, posso no entanto falar um pouco de como funciona o sistema. Em Storium cada jogo tem um anfitrião que convida os jogadores para o jogo, e serve de organizador e moderador. Existirá também um narrador que guia a história, iniciando cada cena e apresentando desafios para os jogadores ultrapassarem. O narrador pode ou não ser o anfitrião, e o papel do narrador pode também ir mudando de cena em cena, entre todos os jogadores. Para além de se tornar um exercício mais colaborativo, este modo rotativo tem também outra vantagem: se um dos narradores estiver ausente demasiado tempo ou simplesmente estiver preso, sem ideias para continuar a cena, o anfitrião pode passar o papel de narrador ao próximo jogador na lista. A mecânica central de Storium são as "story cards", que representam diferentes aspectos da história, tal como pessoas, lugares ou situações. Cada jogo vem com um baralho de cartas (normalmente associadas ao mundo escolhido aquando da criação do jogo, ou escolhidas pelo anfitrião) que podem ser usadas pelos jogadores e pelo narrador para evoluir a história, quase como writing prompts. Os narradores têm três tipos de cartas para estabelecer cenas e criar desafios para os jogadores: Place, Character e Obstacle. Os jogadores têm seis tipos de cartas para criar os seus personagens, descrever as suas acções ou ultrapassar os desafios propostos pelo narrador: Nature, Strength, Weakness, Subplot, Asset e Goal. Quando o anfitrião cria inicialmente o jogo pode também escolher que tipo de história será: uma "Short story", uma "Novella" ou "Epic". Todos os tipos de história seguem o mesmo formato de três actos, com um determinado número de cenas por acto, e o sistema vai deixando dicas narrativas sobre o acto em que os jogadores se encontram. Claro que também podem ignorar esta formatação ou personalizar o vosso tipo de jogo. No setup do jogo podem também definir o estilo de jogo - mais focado na parte de jogo, mais focado na parte de escrita, ou ambas em coisas de igual modo - assim como o estilo de colaboração - cada jogador só pode escrever sobre a sua personagem, ou escrever sobre as outras personagens com autorização dos outros jogadores, ou ainda escrever sobre qualquer personagem desde que seja importante para a história. Podem também definir a velocidade do jogo, quantas cenas esperam fazer por semana (ou dia!). Sempre que um jogador ficar para trás o sistema irá enviar-lhes um email a relembrar que precisam de participar. Claro que algumas das opções de jogo encontram-se fechadas para quem não é membro, mas considerando que o custo de adesão anual ronda os 40.00 USD não se pode dizer que seja impossível aderir. Mesmo com as opções mais limitadas para os utilizadores que não paguem adesão, continua a ser um sistema interessante e com muitas possibilidades. Deixo-vos com o video explicativo do Storium se quiserem saber mais.
A única questão que sobra é: quem se juntaria a nós num jogo de Storium?
Esperamos pelos vossos comentários e sugestões! Até para a semana. C.S.
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Hoje vamos aqui falar de M.O.O.C.'s (Massive Online Open Courses), uma ferramenta útil para quem quer aprender um pouco mais sobre a teoria da escrita criativa, mas não tem possibilidades de pagar cursos presenciais.
Antes de começar a falar de alguns dos cursos que tenho estado a acompanhar, queria destacar o que eu acho que é o melhor aspecto destas formações online: o facto de me obrigar a sentar e escrever! A realidade é que é difícil encontrar tempo (e às vezes vontade) para escrever no nosso dia-a-dia, e ter um prazo a cumprir ou pelo menos uma tarefa a completar para um curso é uma óptima motivação. Passando agora aos cursos em questão, o primeiro que vos queria falar é o "Start Writing Fiction" da The Open University, disponível no site Future Learn . Um curso sobre a escrita de ficção em geral, mas mais focado para a criação de personagens, com entrevistas com autores publicados sobre os seus métodos de escrita, sugestões de coisas a observar e anotar nos vossos cadernos de escrita (todos devíamos ter um, real ou virtual) e bastantes exercícios de escrita para nos forçar a experimentar novas coisas. Apesar de já ir a meio (faltam quatro semanas para acabar) aconselho-vos a darem uma espreitadela. Quem sabe se não descobrem algo que impulsione a vossa escrita? Seguidamente tenho que vos falar de um conjunto de cursos do Coursera, que juntos constituem a Especialização de Escrita Criativa, da Wesleyan University. Podem inscrever-se em vários cursos ou num só, e até podem requerer um certificado no fim e participar no projecto final, se não se importarem de pagar. Para a versão de auditor do cursos não há custos e a primeira parte - "Creative Writing: The Craft of Plot" - começou esta Segunda-feira. Esta primeira formação foca-se na estrutura e enredo das histórias, como construir cada cena e técnicas de edição e revisão. O último curso que vos queria mencionar é o "Writing for Young Readers: Opening the Treasure Chest", leccionado pelo Commonwealth Education Trust, também do website Coursera. Uma formação mais direccionada para a escrita para a geração mais nova mas que tem a vantagem de ser self-paced, ou seja podem começá-lo quando quiserem, e ele vai sugerindo prazos para a conclusão de cada parte, de modo a vos manter motivados! Para além destes três cursos direccionados para a aprendizagem das técnicas de escrita criativa, aconselho-vos a espreitarem as listas de formações noutras áreas, que podem vos ajudar em termos de ideias e conhecimentos em vários ramos. Por exemplo, se gostariam de escrever ficção-científica experimentem acompanhar um curso em Astrofísica, Exoplanetas ou Neurobiologia, ou se estão interessados em escrever no género de história alternativa, experimentem um dos muitos cursos de história e humanidades disponíveis. Quanto a websites de M.O.O.C.'s, para além do Coursera e do Future Learn que já aqui referi, experimentem o edX, o Udemy, o Iversity, o Canvas Network, o Open2Study ou o OpenUpEd. Espero que este artigo vos ajude a aprender alguma coisa! Boas aprendizagens e até para a semana. C.S. Existem tantos “tipos” de escritores como existem pessoas, já que cada um de nós escreve à sua maneira.
No entanto, a maioria dos autores descreve uma escala que varia entre os chamados “Jardineiros” ou “Pantsers” – que tendem a descobrir a sua história à medida que a escrevem – e os “Arquitectos” ou “Plotters” – que esboçam e planeiam todos os acontecimentos antes de os escreverem. Não existe apenas uma maneira de escrever uma história, mas é importante falarmos desta escala de tipos de escritores, já que existe uma colecção de técnicas que todos devemos experimentar de forma a encontrarmos as ferramentas certas para nós. Os Jardineiros escrevem normalmente melhor sem muita estrutura ou restrições, aborrecem-se se já tiverem um plano do que vão escrever, porque já sabem o que vai acontecer e sentem que já escreveram esta história e querem já passar à próxima. Stephen King é um exemplo deste tipo de escritor, já que na sua opinião nunca se deve usar um esboço prévio. Mas lá porque este tipo de escritor não planeia o que vai escrever previamente, não quer dizer que fiquem à espera da “Musa”! Como diz o Stephen King, têm que se obrigar a sentar na cadeira para escrever, mesmo sem saber muito bem para onde vão. Uma das grandes vantagens de partir à descoberta da vossa escrita é porque muitas vezes as ideias fluem de forma mais espontânea, tudo parece mais real. Também tem a vantagem de vos obrigar a escrever, mesmo que não saibam o quê. Pode ser excelente para desbloquear a vossa escrita. Claro que também tem os seus contras. Normalmente os “Jardineiros” tendem a rever muitas vezes, porque quando chegam ao segundo capítulo descobrem mais umas quantas coisas sobre a sua história, e voltam atrás para voltar a rever e a editar. A solução aqui é mesmo desligar o editor interno! Obriguem-se a continuar e a deixar as revisões para o fim. Quem escreve sem um plano pode ter algumas falsas partidas, e as primeiras coisas que escrevem não vão ser utilizáveis para a vossa história. Mas se reconhecerem o problema, usem isso a vosso favor e utilizem esse trabalho de escrita (que, no fundo, é sempre prática que ganham) para descobrirem novas ideias sobre as vossas personagens, o vosso mundo e o vosso enredo. Depois, arquivem esses parágrafos, e comecem de novo agora já com alguma noção da história que vão contar. Outro grande problema para escritores “Jardineiros” é escrever um bom final, porque não sabem para onde vão, e só quando lá chegam é que sabem o que vai acontecer. Regra geral isso apenas quer dizer que vão precisar de um segundo rascunho para melhor conseguirem tecer na história os fios que levam ao vosso final espectacular. A revisão pode ser mais dramática, mas apenas precisam de identificar todas as promessas que foram fazendo aos vossos futuros leitores para as conseguirem satisfazer no vosso final. Se tiverem alguns problemas com isto, peçam aos vossos amigos (escritores ou não) para lerem a vossa história e vos ajudarem a “brainstorming” o final. Para quem está habituado a planear antecipadamente a sua história mas gostaria de experimentar o método dos “Jardineiros”, tentem fixar apenas um ou outro detalhe da vossa história, e usar essa rede de apoio para partirem à descoberta e ver onde a vossa história vos leva! Falando agora dos “Arquitectos”, como por exemplo Orson Scott Card, estes escrevem melhor se souberem qual é o objectivo da sua história e qual é a sequência de eventos prevista. Existem diferentes tipos de esboços possíveis mas, regra geral, vão dividindo os objectivos em passos mais pequenos de modo a irem construindo a sua história antecipadamente. Uma das grandes vantagens deste planeamento todo é que acabam com finais que convergem num grande momento explosivo, em que todos os fios se juntam numa tapeçaria espectacular. Claro que também tem os seus problemas. Um dos quais é a chamada “Worldbuilder’s Disease”, que se traduz em quererem sempre continuar a construir o vosso mundo, e todos os pequenos detalhes das vossas personagens, até à exaustão, e nunca mais passarem ao resto da história. Estabeleçam um tempo pré-determinado para desenvolverem o vosso mundo e depois forcem-se a seguir em frente e escrever a história. Os “Arquitectos” tendem também a passar mais tempo a detalhar todo o esboço e depois escrevem o livro em si num instante. Claro que o problema é que depois não querem voltar atrás e rever tudo o que já escreveram. Querem é passar ao próximo projecto. A solução passa sempre por se obrigarem a sentar, reler e rever toda a vossa história, porque apesar de todo o planeamento do mundo, ela vai sempre precisar de alguns ajustes. Para quem não costuma planear grande coisa e gostaria de experimentar de modo a melhorar a sua escrita têm várias hipóteses. Podem sentar-se e escrever um resumo geral da vossa história (descobrindo à medida que vão escrevendo) ou fazer uma lista de tópicos que refiram os vários eventos que devem acontecer. Depois é só agarrarem em cada tópico ou parágrafo e começarem, passo a passo, a desenvolver cada cena. De certeza que aqui vão descobrir novas ideias, possivelmente mais interessantes que as que tinham anotado originalmente. Sintam-se sempre à vontade para mudar o vosso plano inicial – afinal de contas é um guia da vossa viagem e não uma estrutura fixa e inalterável. Quando tiverem uma sequência de cenas mais ou menos desenvolvidas vão de certeza encontrar buracos nas vossas histórias, sítios onde precisam de uma cena para vos levar do ponto A ao B, ou onde precisam de demonstrar consequências ou antecipar o vosso final. Lembrem-se sempre que a maioria de nós situa-se algures no meio desta escala. Há quem prefira descobrir as suas personagens mas ter um esboço detalhado do seu enredo, ou descobrir o início da história e, depois de saber para onde vai, planear o resto do caminho. Como se costuma dizer, no meio é que está a virtude, e é sempre bom tentar usar ambos os métodos de modo a termos o melhor dos dois mundos. Deixo-vos esta semana com o desafio de se sentarem, analisarem que tipo de escritor acham que são, e depois tentarem usar o método oposto de escrita. Se não experimentarem todas as técnicas disponíveis podem não saber o que estão a perder. Boas escritas e até para a semana! C.S. Pois é meus amigos!
Hoje é oficialmente o último dia do NaNoWriMo de 2015. E digo oficialmente porque nada vos impede de continuarem a escrever! Garanto-vos que não serão os únicos a ainda não ter terminado as vossas 50.000 palavras. Ou então até já atingiram o objectivo de palavras escritas, mas a vossa história ainda não chegou ao fim. Mudem o vosso prazo e continuem a escrever! Para todos os que estão a chegar ao fim, os que ficaram pelo caminho ou aqueles que nem sequer começaram, há sempre qualquer coisa a aprender com o NaNoWriMo. Temos que começar por repetir aquilo que já aqui foi dito antes: uma das melhores vantagens do NaNoWriMo é servir de prática! Se querem escrever têm que praticar a vossa escrita! A primeira regra da escrita é escrever! E essa tem que ser também a mentalidade do escritor. Uma coisa que todos os participantes do NaNoWriMo também precisam de aprender rapidamente é como escrever apesar de todas as distracções do dia-a-dia. Muitos de nós caem no erro de pensar "Um dia, quando eu tiver muito tempo livre, vou escrever!" A verdade é que esse dia nunca chegará. Mesmo os escritores profissionais têm distracções. Talvez um pouco diferentes das distracções das pessoas normais, mas elas estão lá na mesma! A única maneira de escreverem 50.000 palavras (ou qualquer que seja o vosso objectivo) num mês é desligarem o vosso editor interno e ignorarem todas as regras que já aprenderam sobre como escrever. Quando finalmente escreverem "O Fim", podem então começar a pensar em rever todo o vosso trabalho. De certeza que que vão ter muito que editar, porque ninguém acaba o NaNoWriMo com um livro perfeito e acabado. Se não chegaram ainda ao fim, continuem a escrever. Nenhum escritor que se preze escreve só um mês por ano! Dezembro vem aí, com uns feriados pelo meio e, para muita gente, uns dias de férias também. Aproveitem para escrever! Podem fazê-lo durante a consoada ou almoço de Natal! Afinal, quem é que precisa de duas mãos para comer peru? Comam à moda dos homens das cavernas enquanto teclam como se não houvesse amanhã com a outra mão! Ou enquanto toda a gente estiver a digerir a mega-refeição de Natal e a ver os filmes do costume na televisão, vocês podem sentar-se num cantinho e escrever mais uns milhares de palavras! Quem sabe se a injecção de açúcar que levaram a comer todos aqueles doces de Natal não vos ajudam a escrever mais rápido? E para aqueles que não conseguiram começar este mês, o NaNoWriMo pode ser quando vocês quiserem (tal como o Natal). stabeleçam os vossos objectivos de palavras e o vosso prazo e depois obriguem-se a escrever! É sempre o esforço que conta. E hoje ficamos por aqui porque de certeza muitos que alguns de vós ainda precisam de ir escrever! Para a semana estaremos de volta à "programação" normal, com a nossa opinião sobre a Comic-Con Portugal 2015. Esperamos ver-vos por lá! C.S. Agora que agarraram nas vossas boas ideias e as transformaram numa história podem estar a perguntar-se: “Será a minha história original o suficiente?“
Normalmente a originalidade vem da combinação de duas ideias pré-existentes, de uma maneira que nunca ninguém se lembrou de juntar. E uma boa maneira de o fazer é combinar uma ideia banal com uma ideia extraordinária – o familiar e o estranho – algo normal que vos atraia, que já conhecem, mas que tenha algo estranho. Por exemplo, o normal pode ser uma história passada numa escola (algo que todos conhecemos) e o extraordinário pode ser os Professores serem extraterrestres/vampiros/*inserir ser paranormal da vossa escolha*. O extraordinário pode também ser algo que seja familiar, mas que quando inserido na vossa história, se torne estranho. Têm que se lembrar que algumas pessoas definem "génio" como alguém que agarra em duas áreas de estudo, bastante normais, e os junta para criar um novo campo de uma forma que ninguém se lembrou antes. Por isso, também vocês podem agarrar em duas ideias bastante normais e as juntar numa maneira bastante original! Há que ter a noção que algumas ideias que em tempos foram extraordinárias podem agora já ser consideradas banais. Por exemplo, depois da série da Buffy, os livros do Twilight e uma série de mangas, hoje em dia numa história passada num liceu é quase expectável que existirão seres sobrenaturais. Por isso há que ter cuidado para não utilizarem a mesma justaposição de ideias normais-sobrenaturais que já foram usadas - ou usá-las conhecendo o risco de poderem já ser muito batidas! E para saber se o vosso bizarro se está a tornar o normal no mundo literário têm que saber o que por aí anda, o que está a ser publicado e o que o público anda a ler, ou a ver. Às vezes o que vos parece original pode não ser original o suficiente! Podem ter que levar a vossa ideia um pouco mais longe! Mas não desesperem! É sempre possível criar uma nova história interessante com ideias que já foram usadas, se quiserem, se gostarem muito da ideia e se a souberem contar de uma forma interessante! É sempre melhor escreverem algo pelo qual estão apaixonados! Também podem usar essa ideia que já foi bizarra – por exemplo, o liceu com seres sobrenaturais - para ser a vossa ideia normal, e juntarem-lhe outra ideia ainda mais estranha. E há que lembrar que se algumas pessoas preferem 99% familiar e 1% estranho – é possivelmente por isso que a literatura romântica parece tão uniforme, porque os leitores assim gostam! – outras pessoas podem querer 70% original e 30% familiar – como é normalmente o caso dos fãs de ficção científica. Depende muito dos leitores. Há normalmente um maior número de pessoas a quererem uma proporção mais equitativa de original e familiar, mas só vocês podem decidir para quem querem escrever! Atenção que no mundo da ficção especulativa pode existir o problema de originalidade a mais - se a história for passada numa sociedade de tal forma futurista em que as personagens já não são de alguma forma identificáveis para os leitores, em que não conseguem estabelecer uma relação com as mesmas. No entanto pode ser uma história muito interessante do ponto de vista da criação do mundo e como ensaio sobre o futuro. Só vocês sabem que história querem escrever! Desde que conheçam os problemas em serem demasiado familiares ou demasiado originais, decidam que história gostariam de contar e escrevam-na! É sempre possível darem demasiada importância à originalidade da vossa história. Existem livros que foram considerados muito originais pelos seus leitores porque nunca antes tinham lido nada assim, mas que para outras gerações de leitores foram trabalhos derivativos dos clássicos - por exemplo Eragon para uma geração de leitores foi um livro espectacularmente original e para outraa geração foi a mesma história que já haviam lido noutras obras. Às vezes aquilo que consideramos original pode ser apenas o primeiro exemplo daquele tipo de conto que lemos. E o facto de a vossa história não ser 100% original pode ser bom! Se existe uma audiência para livros como o vosso, será certamente mais fácil chamar leitores para a vossa história! Eles já sabem que gostam dessa ideia, por isso vão querer ler mais histórias passadas nesse tipo de mundo! Depois de tantos prós e contras, não se esqueçam: Escrevam a história que querem ler! Haverá sempre alguém que a quererá ler! Agora sentem-se e escrevam! C.S. (Faltam 14 dias para o fim do NaNoWriMo - não interessa quantas palavras vos faltam! Continuem a escrever!) Para escrever uma história são precisas mais do que algumas ideias soltas.
Por muito boas que sejam, só por si não fazem um conto com principio, meio e fim. Hoje vamos falar do passo seguinte nesta jornada criativa. O que fazer quando têm uma ideia? Como tornar essa ideia numa boa história? O primeiro passo será procurar o conflito gerado pela vossa ideia. Pode ser um conflito entre diferentes personagens, ou talvez um choque entre a vossa personagem principal e o mundo onde ela se insere. O que interessa é que alguém tem que estar em sofrimento (literal ou figurativo), alguém terá o dia arruinado por essa excelente ideia. Têm que perceber como a vossa ideia vai afectar as diferentes classes de pessoas no mundo, quem é que tem mais a perder ou a ganhar com este problema? De que forma é que a vossa ideia impacta o mundo ou o enredo? Todos estes pontos são boas formas de criar conflitos nas vossas histórias. Agora que criaram vários pontos de tensão têm que decidir como eles se vão resolver. Encontrem várias soluções possíveis para os problemas que criaram às vossas personagens, e decidam qual faz mais sentido para a vossa história, qual é a mais original e, particularmente, qual é o caminho que gera ainda mais conflitos, de modo a acabarem com uma boa história para contar. Muitas vezes encontrar o problema que ainda não conseguem resolver pode ser a melhor história, aquela que vai ser mais interessante de contar. Porque se vocês não conseguem solucionar o problema à primeira, de certeza que os vossos leitores também não vão conseguir. E se essa história é interessante para vocês, também o será para outros. Possivelmente por esta altura vão ter que decidir que tipo de história querem contar, e como querem que ela acabe, de modo a melhor "planearem" o caminho das vossas personagens. Claro que não precisam de saber todos os passos nessa viagem! Se tiverem boas ideias de personagens e souberem onde eles começam a jornada, comecem a escrever diálogo e deixem as vossas personagens indicarem-vos o caminho. Muitas vezes ajuda anotarem todas as ideias que geraram até agora. Há quem organize as várias ideias por tópicos - personagens, mundo, enredo - para melhor descortinar as ligações entre entre elas. Podem simplesmente escrever um resumo da vossa história para tentarem perceber como as várias ideias se interligam. Para algumas pessoas ajuda tentar contar a história a alguém, para solidificar a história na vossa cabeça ou talvez até descobrir para onde ela vai. Até podem chegar à conclusão que ainda não conseguem explicar a vossa ideia, que se calhar precisam de trabalhar nela um pouco mais. As reacções do outros, ou as perguntas que vos colocam podem ser bastante relevantes no desenvolvimento da vossa história. Uma sessão de brainstorming com outros escritores sonhadores pode ajudar a evoluir a ideia e descobrir quais são as questões mais interessantes a colocar. O que interessa é que no final do dia tenham criado uma história interessante para contar. Agora sentem o rabo na cadeira e escrevam! (Faltam 21 dias para o fim do NaNoWriMo - Não percam a motivação!) C.S. Em honra ao NaNoWriMo, até ao final do mês esta secção será (quase) exclusivamente dedicada à escrita criativa.
E um dos grandes problemas em começar uma história é muitas vezes a falta de (boas) ideias. Sendo assim hoje vamos falar da geração de ideias para as nossas histórias. Alguns autores argumentam que as ideias são baratas, mas muitas vezes na rotina do dia-a-dia torna-se difícil ter espaço criativo mental para gerar novas ideias. A primeira coisa a fazer é encontrar um espaço e um tempo para darmos asas à imaginação. Pode ser tomar um banho de imersão, dar um passeio longo, ir ao ginásio, fazer viagens longas ou ouvir música. O que interessa é que dês oportunidade ao teu inconsciente de trazer para o consciente algumas das questões, eventos ou personalidades que já lá ficaram retidos. Onde quer que estejas olha à tua volta. Por vezes são os sítios por onde passamos todos os dias que serão os catalisadores da nossa história. Lê! Não só no género que queres escrever mas também noutros géneros literários. Nunca sabes de onde virá a inspiração. Da mesma maneira, usa os filmes que vês e a música que ouves como inspiração. Talvez porque encontraste uma ideia espectacular com que também queres brincar ou porque encontraste uma ideia excelente mas que achas que foi mal aproveitada e consegues fazer melhor. Não tenhas medo de "roubar" dos vários meios de entretenimento. Estamos rodeados deles todos os dias, por isso porque não aproveitá-los como inspiração? Utiliza as conversas que ouviste nos transportes, na fila de espera do supermercado ou enquanto bebias o teu café. Quem sabe não encontras a fala perfeita para despoletar a tua criatividade? Se ainda não tens um caderno de ideias (ou uma aplicação no smartphone onde apontar notas), arranja! Sempre que tenhas uma ideia, por muito parva que possa parecer, anota-a. E descobre onde tens mais ideias - quando estás a adormecer, a conduzir, no duche, enquanto fazes limpezas, na viagem diária para o trabalho - e depois certifica-te que tens sempre sítio para apontar todas as ideias que te vieram à cabeça. Muitas vezes quando passamos as nossas ideias para o papel tudo fica a fazer mais sentido. Geralmente para gerar ideias só é preciso teres um problema e tentar chegar às várias soluções. Isso é na sua base a criatividade. Se a tua primeira solução ou ideia não te motivar a escrever, tentar levá-la ao próximo nível até encontrares algo que te inspire a escrever. Da mesma maneira que podes usar o entretenimento actual para te inspirar, tenta pesquisar por inovações científicas ou tecnológicas e pergunta-te: o que poderia correr mal com esta nova tecnologia? As notícias são também uma boa forma de geração de ideias, pois por esse mundo fora há acontecimentos interessantes que podem ser uma boa base de partida para a tua narrativa. A História do nosso mundo pode também ser um bom ponto por onde começar. Pega num evento histórico que te desperte curiosidade e imagina o mundo se o desfecho tivesse sido diferente. O recontar de mitos ou contos de fadas pouco conhecidos pode também dar uma óptima história original. Uma boa técnica quando não sabes por onde começar é fazer uma lista de ideias que gostas, por exemplo dos livros ou filmes que adoras, escreve-as em pequenos pedaços de papel e depois tira à sorte uma mão cheia de ideias e parte à descoberta! Uma forma mais tecnológica de fazeres o mesmo é utilizares uma aplicação de smartphone ou um dos muitos websites que existem por aí, para gerar writing prompts ou inícios de ideias. O que tens que te lembrar é que quanto mais escreveres mais ideias terás. E quantas mais ideias tiveres, maior a probabilidade de algumas delas serem mesmo boas! Por isso, se ainda não sabes o que escrever, quer estejas a participar no NaNoWriMo ou não, espero que consigas tirar daqui algumas dicas para chegares àquela grande ideia! Para a semana estaremos de volta com mais ideias. Agora senta-te e escreve! (Faltam 28 dias para o fim do NaNoWriMo - Quantas palavras ainda te faltam?) C.S. Ora bem, meus companheiros escritores, Novembro aproxima-se como uma tempestade cafeínada de palavras, que promete muitas noites sem dormir, almoços comidos à pressa, e casas a precisar de limpezas urgentes.
Para todos os outros que não fazem ideia do que aí vem, deixem-me elucidar-vos sobre o National Novel Writing Month - NaNoWriMo. Criado em Julho de 1999 por um grupo de vinte e poucos amigos, com vinte e poucos anos, na cidade de São Francisco (EUA), rapidamente evoluiu para um evento nacional, e posteriormente mundial. O objectivo do NaNoWriMo é, em teoria, simples: escrever um livro num mês. Para efeitos deste evento um livro são 50.000 palavras, e o mês é Novembro, escolhido a partir da segunda edição para aproveitar o facto de o tempo lá fora estar miserável. Participar no NaNoWriMo é fácil. Inscrevam-se no website do evento, onde podem ir actualizando a vossa contagem de palavras, conhecer outros participantes e ter acesso a muitos recursos destinados a vos acompanhar durante todo o mês. Depois disso, basta escrever 50.000 palavras em 30 dias, ou aproximadamente 1667 palavras por dia. Simples, certo? Talvez não! Apesar de ser uma principiante (é apenas o meu segundo ano) devo dizer participar no NaNoWriMo é mais difícil do que à partida parece. Por muito boas intenções com que comecem o mês haverá sempre um altura em que só vos apetece desistir. Eu sei o que isso é, visto que ano passado também não cheguei ao fim. Mas não se preocupem, novatos ou veteranos nestas andanças, este artigo serve exactamente para vos deixar algumas dicas para vos ajudar nesta jornada. Sejam consistentes! Estabeleçam horários e metas pessoais antes de começarem e depois mantenham-nas. Quanto mais escreverem mais fácil será continuar a escrever, por isso nunca parem! Não interrompam as vossas rotinas de escrita por nada, porque será muito mais difícil voltarem a entrar no ritmo. O início é sempre o mais fácil e o meio é sempre o mais difícil. Não se preocupem que não são os únicos a chegar a meio do mês sem fazer ideia onde é que a vossa história está a ir, ou como é que vão chegar àquele final espectacular que já têm pensado. Se se virem confrontados com um obstáculo deste género a primeira coisa a fazer é tentar superá-lo. Tentem escrever primeiro o fim que já têm definido, ou algumas cenas mais à frente que não vos saem da cabeça. Dediquem algumas horas a retraçar o enredo da vossa história, usem uma das milhares writing prompts disponíveis por essa Internet fora para vos estimular ou peçam ajuda a um dos outros participantes do NaNoWriMo para um pouco de brainstorming. Se chegarem à conclusão que neste momento não conseguem ultrapassar esta lomba no caminho, virem o tempo a passar e o prazo final a aproximar-se, não entrem em pânico! Descrevam. Descrevam as vossas personagens, a sua percepção do mundo que as rodeia, os locais que elas ainda vão visitar no vosso conto. O que interessa é que estejam a escrever. Pode não ser bom, mas é escrever! Podem chegar a uma altura do mês em que acham que não têm tempo para isto, estão demasiado ocupados. Mas a verdade é que estar ocupado é bom! Quando há mil coisas para fazer, mil e uma não é assim tão mau! Se tivessem o mês de folga, sem nada para fazer sem ser escrever, iriam certamente arranjar desculpas para fazer tudo menos escrever. Ter prazos é bom. Sintam a pressão do dia 30 de Novembro a aproximar-se e escrevam! Podem começar sem saber para onde vão, não precisam de ter tudo planeado. Mesmo para o tipo de escritor que precisa de ter um enredo planeado, o NaNoWriMo é uma excelente altura para partirem à descoberta. Ninguém disse que no final do mês têm que ter um livro finalizado, nem sequer que tem que fazer muito sentido. Aproveitem a oportunidade para arriscarem, experimentarem e praticarem coisas que normalmente estariam fora da vossa zona de conforto como escritores. Nunca sintam que falharam! Podem não ter chegado às 50.000 palavras e o que escreveram pode não ser uma obra de arte, mas é prática! O melhor que podem fazer para serem melhores escritores é escrever. O NaNoWriMo pode vos ajudar a escrever mais e mais depressa, a manter os vossos horários e principalmente a desligar o vosso editor interno. Lembrem-se das palavras de Ray Bradbury: "Your intuition knows what it wants to write, so get out of the way." C.S. Este mês vamos falar de bons hábitos de escrita porque, se forem como eu, é algo que muitas vezes nos falta e repetidamente nos impede de escrever tanto como gostaríamos.
Vou aqui falar essencialmente de três ideias: Espaço de Escrita, Tempo de Escrita e Mentalidade de Escrita. Espaço de Escrita: Alguns de vós têm já o vosso espaço de escrita definido. Pode ser uma divisão específica da vossa casa, uma mesa ou secretária favoritas, uma biblioteca ou café que costumem frequentar. Pode até ser um espaço móvel. A mera presença dos vossos utensílios de escrita, o ritual de os dispor de uma certa forma, pode criar o vosso espaço criativo, onde quer que estejam. O que interessa é que se sintam confortáveis. Para algumas pessoas pode ser preciso ter uma certa camisola vestida, ter sapatos calçados ou, até, ter ou não calças vestidas! Podem precisar do vosso caderno ou caneta favoritos, ou abrir um software específico para criarem a vossa história. Algumas pessoas gostam de escrever com música, outras em silêncio, e ainda outras com barulho de fundo. Para aqueles que se distraem facilmente com música deixo a sugestão: experimentem o editor de texto online Noisli. Esta página oferece um temporizador, vários sons de fundo - como chuva, uma fogueira a crepitar, o vento ou os barulhos de um café - e um ecrã sem grandes distracções. É só escrever e depois guardar no vosso computador. O que interessa é que identifiquem as condições que precisam para escrever, repliquem-nas sempre que possível, e vão ver a vossa vida muito facilitada. Tempo de Escrita: Todos nós nos queixamos de não ter tempo para escrever. É possivelmente das desculpas que eu mais uso! Temos que trabalhar, ir às aulas, arrumar a casa, fazer o jantar, ir às compras ou lidar com filhos, pais ou cônjuges. Depois de tudo isto quem é que tem tempo para se sentar e escrever?! A primeira coisa que têm que fazer é prioritizar o vosso dia-a-dia, de modo a encontrarem tempo para escrever. Uma excelente sugestão que encontrei quando me preparava para o último NaNoWriMo foi a seguinte: durante uma semana, ao final de cada dia, façam um calendário de todas as coisas que fizeram ao longo do dia, e o tempo que demorou cada uma. Por exemplo: 08h-09h - Viagem para o trabalho, 09h-12h - Trabalhar; 12h-12:30h - Almoçar; (...); 21h-22:30h - Ver TV. Depois identifiquem a tarefas que (infelizmente) não podem deixar de fazer (como trabalhar ou ir às aulas); as tarefas que podem fazer ou não nesse dia (se calhar essa loiça pode ficar para amanhã ou podes pedir a alguém que trate do jantar) e por último as actividades que claramente podem dar lugar à escrita (como ver TV). No final vão conseguir identificar como melhor ajustar o vosso dia-a-dia para criarem tempo para escrever. Para a maioria de nós o ideal seria podermos reservar um bloco de três ou quatro horas só para nos dedicarmos à nossa escrita. Afinal de contar, os primeiros três quartos de hora são normalmente de "aquecimento". Muitos de nós gostam de reler o que escreveram no dia anterior, fazer alguma pesquisa ou simplesmente fazer outras coisas que nos ajudem a encher o poço da criatividade. Para alguns isto pode ser jogar, navegar na internet ou espreitar as redes sociais. Todas estas coisas podem ser importantes para nos ajudar a passar do "Modo Trabalho" ou "Modo Família" para o "Modo Escrita". O meu conselho desde já é arranjarem um temporizador (pode ser aquele que têm na cozinha) e determinarem à priori quanto tempo vão gastar com estas actividades. Quando o relógio tocar, está na hora de começar a criar (até rima e tudo!). Mas para aqueles que não têm mesmo oportunidade de reservar quatro horas do seu dia para a escrita, terão de aprender a fazer o vosso "aquecimento" antes de sequer se sentarem à secretária. Talvez possam reler o que escreveram no caminho para casa ou dedicar algum espaço mental ao que vão escrever hoje enquanto tomam conta de algumas tarefas de casa. Uma nota importante - Nunca subestimem a vossa capacidade de escrever muito em pouco tempo! Para muitos de nós, quanto menos tempo temos, mais produtivos somos! Mentalidade de Escrita: O problema de muito boa gente, incluindo eu, é que dizemos a nós mesmos que agora não conseguimos escrever, que "um dia" (aquele mítico ponto no futuro longínquo em que vamos fazer todas as coisas) teremos mais tempo para escrever ou que os outros nos impedem de escrever. A verdade é que temos primeiro que assumir perante nós mesmos que queremos escrever! Há que fazer a transição de escrever por hobby para escrever a sério, e assumir que se queremos ter escrito um livro, temos que começar a escrever! É verdade que as pessoas que nos rodeiam podem inadvertidamente estar a tentar dizer-nos o que fazer, no sentido de acharem que devíamos estar a fazer outras coisas mais importantes, em vez de escrever. Mas temos que ser nós a mostrar-lhes que queremos que a nossa escrita seja tratada seriamente. Se não levarmos o acto de escrever a sério, quem nos rodeia também não levará. Se por outro lado, precisam de ajuda para começar a escrever todos os dias, experimentem deixar já escrita a primeira linha do vosso próximo capítulo, ou deixar a meio uma cena que estão a adorar escrever. Podem achar que vão perder o ímpeto, mas pode também servir para começarem a vossa próxima sessão de escrita mais motivados para continuar aquele momento dramático da vossa história. Para os que precisam de motivação mais fofinha, experimentem o Written? Kitten!. Por cada 100 ou 200 palavras que escreverem neste editor de texto online, ele oferece-vos uma nova imagem de um gatinho (ou cachorrinho, ou coelhinho, é o que preferirem!) Se isto for demasiado fofo para vocês (como é para mim) fiquem-se pelo papel e caneta, e deixem os gatinhos para quando forem relaxar a ver vídeos do YouTube. Este em particular é bastante bom para encher o poço da criatividade. Desafio-vos a escreverem uma pequena história sobre este pobre gato e a partilharem com todos nós as vossas criações! Toca a escrever! C.S. Esta rubrica da secção Especular partiu de um desejo pessoal de passar para o papel (neste caso virtual) tudo o que já li, e ouvi, em inúmeros livros, podcasts, workshops e entrevistas sobre escrita criativa.
É, portanto, uma rubrica bastante egoísta, mas que, espero eu, sirva de inspiração, motivação ou ajuda a outros escritores amadores que por aqui passem. Espero conseguir tocar em tópicos como a geração de ideias, hábitos de escrita, desenvolvimento de personagens ou a criação de conflitos interessantes. Tudo isto pode parecer muito técnico, ou até profissional, mas deixem-me desde já relembrar-vos que, não só não sou profissional do ramo literário, como nem sequer estudei uma área que se aproxime de tal (a não ser que relatórios e artigos científicos contem como literatura! Espero que não!). Sou apenas uma escritora sonhadora com ambições de um dia conseguir finalmente acabar um livro. Agora que já estão todos avisados, quero começar este "guia" com as três ideias que mais me inspiraram a recomeçar a escrever nos últimos anos:
Podem discordar à partida de tais informações, mas deixem-me pelo menos tentar convencer-vos. Claro que ter ideias e inspiração, e especialmente sorte, é óptimo! Mas vamos ser honestos, nem sempre tal acontece. Durante muito tempo senti uma enorme vontade de voltar a escrever sem saber muito bem sobre o quê, nem como. Achei que me faltavam as ideias, ou talvez a inspiração, para tal. Mas a verdade é que, se existem alturas em que sentimos claramente a presença da "musa" e as palavras jorram perfeitas para a página, outros dias temos simplesmente que nos obrigar a sentar o rabo na cadeira e escrever, por muito que não nos apeteça. Pelo que diz o Stephen King (e ele há-de certamente saber melhor que nós), quando acabarem a edição desse vosso primeiro rascunho, os vossos leitores não vão dar pela diferença. E a verdade é que as ideias são baratas! Quanto mais escrevemos mais ideias nos surgem. Basta começarmos a prestar mais atenção ao que nos rodeia para novas ideias aparecerem. Claro que há ideias melhores que outras, mas um bom escritor pode agarrar em más ideias e escrever uma óptima história! Basta verem o exemplo do escritor Jim Butcher que, numa workshop sobre escrita, apostou que conseguia escrever um bom livro baseado em duas ideias terríveis. As ideias sugeridas por um dos presentes foram "Pokémon" e a "Legião Romana Desaparecida". E daí nasceu a sua série de Fantasia "Codex Alera". Ter muitas ideias é também importante para não cairmos no erro de as tratarmos como algo de valioso e sacrossanto. Senão como teremos a coragem de experimentar e trabalhar novas técnicas de escrita com as nossas preciosíssimas ideias? E não há nada mais importante que praticar. Alguém um dia disse "É primeiro preciso escrever um milhão de palavras para se ser um bom escritor". Aparentemente ninguém sabe ao certo quem foi o autor de tal afirmação, nem a citação exacta, mas é o sentimento que conta. Portanto, toca a escrever! Há quem diga que podemos encarar a escrita como qualquer outra arte cénica. Quanto mais praticarmos mais a nossa escrita se torna instintiva. Tal como um acrobata não está a pensar nas leis da física envolvidas na execução de um triplo mortal, também nós podemos aprender a escrever bem instintivamente. Não é a inspiração ou a sorte que faz com que o acrobata caia de pé no final do exercício, é a prática. Por isso pratiquem para que as vossas histórias caiam sempre de pé, e com nota máxima! Por último, qualquer um de nós pode aprender a ser um bom escritor, se estivermos dispostos a investir o tempo e o trabalho necessários. E não sou só eu que o digo - afinal quem sou eu senão apenas uma sonhadora com vontade de escrever - mas autores como David Farland. Todos nós ouvimos as mais variadíssimas histórias no nosso dia-a-dia, de amigos, familiares, colegas. Se prestarmos atenção às que mais nos cativam - a mensagem que o locutor tenta passar, a pessoas envolvidas, o cenário - podemos assim aprender como melhor desenvolver as nossas próprias histórias. Claro que os cursos de escrita criativa, os livros, os podcasts ou os painéis com escritores também ajudam. Mas temos que estar preparados para investir o nosso tempo, suor e lágrimas (e quem sabe, sangue), quer queiramos ser escritores profissionais ou apenas escrever bem pelo gozo que isso nos dá. O meu rabo está firmemente assente na cadeira e os meus dedos estão preparados para sangrar (q.b.). E vocês? Para acabar em grande deixo-vos com um excerto de "On Writing" de Stephen King. "You can approach the act of writing with nervousness, excitement, hopefulness, or even despair—the sense that you can never completely put on the page what’s in your mind and heart. You can come to the act with your fists clenched and your eyes narrowed, ready to kick ass and take down names. You can come to it because you want a girl to marry you or because you want to change the world. Come to it any way but lightly. Let me say it again: you must not come lightly to the blank page. I’m not asking you to come reverently or unquestioningly; I’m not asking you to be politically correct or cast aside your sense of humor (please God you have one). This isn’t a popularity contest, it’s not the moral Olympics, and it’s not church. But it’s writing, damn it, not washing the car or putting on eyeliner. If you can take it seriously, we can do business. If you can’t or won’t, it’s time for you to close the book and do something else. Wash the car, maybe." "On Writing - A Memoir of the Craft", Stephen King Que vos sirva de inspiração! |
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Maio 2016
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