Faz hoje exactamente 2 meses que o Instituto Superior Técnico se viu invadido por Daleks de crochet, Stormtroopers e Steampunkers, entre outros aficionados da ficção científica, naquela que foi a primeira (de muitas) Convenção Internacional de Ficção Científica de Lisboa.
Durante dois dias o Sci-Fi Lx 2015 encheu o Pavilhão de Civil do IST de bancas, workshops, palestras, jogos, filmes e livros para agradar a todo o tipo de fãs do género. Tendo tido o privilégio de ajudar na organização do evento este ano, posso confirmar que muito sangue, suor e lágrimas jorrou para trazer este evento ao público (mais suor e menos lágrimas, claro!). Para todos os interessados no tema fiquem a saber que a organização do Sci-Fi Lx está em constante procura por mais voluntários. Dá trabalho mas também muito gozo, por isso espero que alguns de vós aproveitem a oportunidade de ajudar com o Sci-Fi Lx 2016! O ponto do alto do evento, na minha opinião pessoal, foi a Masterclass de Escrita Criativa de Ficção Científica, dada por Luís Filipe Silva. Este autor português de ficção científica e fantástico é também editor do blog/revista Trëma e foi galardoado em 1991 com o Prémio Editorial Caminho de Ficção Científica. Tem contos publicados em diversas revistas e jornais, nacionais e internacionais, foi crítico literário no Diário de Notícias e ainda editor de romances na Devir. De entre as suas obras destacamos "O Futuro à Janela" ( Editorial Caminho, 2010) e a antologia "Pulp Fiction Portuguesa" (Saída de Emergência, 2011). Apesar dos contratempos logísticos no início da workshop (se fosse um conto de ficção científica de certeza que a tecnologia não avariava!) foram três horas de muita conversa e aprendizagem sobre o género. Na minha lista de coisas a fazer ficou claramente a necessidade de conhecer melhor o género para mais facilmente conseguir gerar novas ideias dentro do mesmo. Claro que esta sugestão não veio só. Veio acompanhada de uma lista bastante extensa de livros de ficção científica a ler, entre os quais posso destacar: Mars Trilogy (K. S. Robinson), I, Robot (I. Asimov), Childhood's End (A. C. Clarke), Lucifer's Hammer (L. Niven & J. Pournelle), The Postman (D. Brin), The Years of Rice and Salt (K. S. Robinson), Judgement in Stone (R. Rendell), The Dispossessed (U. Le Guin), entre muitos outros! Claro que a ficção científica, tal como todos os outros géneros, tem uma tradição que deve ser estudada mas também pode, e deve, ter variações sobre o tema, criando novas ideias e mesmo sub-géneros. E, para além dessas variações, deve também ser alvo de uma evolução, respeitando a sua tradição. No entanto, há que ter algum cuidado quando escrevemos em sub-géneros muito limitados, pois podemos estar a restringir muito o nosso público-alvo. Por último, foi também discutido nesta masterclass o assunto do negócio da escrita (e publicação) em Portugal, e as dificuldades de escrever na nossa bela língua materna. Um tema com muito pano para mangas, mas sem dúvida com o melhor professor possível. Fica desde já prometido que um destes meses o livro do Clube de Leitura será deste grande escritor português! E vocês? Estiveram também no Sci-Fi Lx 2015? O que acharam? E no que toca a Ficção Científica, têm sugestões de leitura, portuguesas ou não? Deixem-nos o vosso comentário! Até para a semana! C.S.
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Esta rubrica da secção Especular partiu de um desejo pessoal de passar para o papel (neste caso virtual) tudo o que já li, e ouvi, em inúmeros livros, podcasts, workshops e entrevistas sobre escrita criativa.
É, portanto, uma rubrica bastante egoísta, mas que, espero eu, sirva de inspiração, motivação ou ajuda a outros escritores amadores que por aqui passem. Espero conseguir tocar em tópicos como a geração de ideias, hábitos de escrita, desenvolvimento de personagens ou a criação de conflitos interessantes. Tudo isto pode parecer muito técnico, ou até profissional, mas deixem-me desde já relembrar-vos que, não só não sou profissional do ramo literário, como nem sequer estudei uma área que se aproxime de tal (a não ser que relatórios e artigos científicos contem como literatura! Espero que não!). Sou apenas uma escritora sonhadora com ambições de um dia conseguir finalmente acabar um livro. Agora que já estão todos avisados, quero começar este "guia" com as três ideias que mais me inspiraram a recomeçar a escrever nos últimos anos:
Podem discordar à partida de tais informações, mas deixem-me pelo menos tentar convencer-vos. Claro que ter ideias e inspiração, e especialmente sorte, é óptimo! Mas vamos ser honestos, nem sempre tal acontece. Durante muito tempo senti uma enorme vontade de voltar a escrever sem saber muito bem sobre o quê, nem como. Achei que me faltavam as ideias, ou talvez a inspiração, para tal. Mas a verdade é que, se existem alturas em que sentimos claramente a presença da "musa" e as palavras jorram perfeitas para a página, outros dias temos simplesmente que nos obrigar a sentar o rabo na cadeira e escrever, por muito que não nos apeteça. Pelo que diz o Stephen King (e ele há-de certamente saber melhor que nós), quando acabarem a edição desse vosso primeiro rascunho, os vossos leitores não vão dar pela diferença. E a verdade é que as ideias são baratas! Quanto mais escrevemos mais ideias nos surgem. Basta começarmos a prestar mais atenção ao que nos rodeia para novas ideias aparecerem. Claro que há ideias melhores que outras, mas um bom escritor pode agarrar em más ideias e escrever uma óptima história! Basta verem o exemplo do escritor Jim Butcher que, numa workshop sobre escrita, apostou que conseguia escrever um bom livro baseado em duas ideias terríveis. As ideias sugeridas por um dos presentes foram "Pokémon" e a "Legião Romana Desaparecida". E daí nasceu a sua série de Fantasia "Codex Alera". Ter muitas ideias é também importante para não cairmos no erro de as tratarmos como algo de valioso e sacrossanto. Senão como teremos a coragem de experimentar e trabalhar novas técnicas de escrita com as nossas preciosíssimas ideias? E não há nada mais importante que praticar. Alguém um dia disse "É primeiro preciso escrever um milhão de palavras para se ser um bom escritor". Aparentemente ninguém sabe ao certo quem foi o autor de tal afirmação, nem a citação exacta, mas é o sentimento que conta. Portanto, toca a escrever! Há quem diga que podemos encarar a escrita como qualquer outra arte cénica. Quanto mais praticarmos mais a nossa escrita se torna instintiva. Tal como um acrobata não está a pensar nas leis da física envolvidas na execução de um triplo mortal, também nós podemos aprender a escrever bem instintivamente. Não é a inspiração ou a sorte que faz com que o acrobata caia de pé no final do exercício, é a prática. Por isso pratiquem para que as vossas histórias caiam sempre de pé, e com nota máxima! Por último, qualquer um de nós pode aprender a ser um bom escritor, se estivermos dispostos a investir o tempo e o trabalho necessários. E não sou só eu que o digo - afinal quem sou eu senão apenas uma sonhadora com vontade de escrever - mas autores como David Farland. Todos nós ouvimos as mais variadíssimas histórias no nosso dia-a-dia, de amigos, familiares, colegas. Se prestarmos atenção às que mais nos cativam - a mensagem que o locutor tenta passar, a pessoas envolvidas, o cenário - podemos assim aprender como melhor desenvolver as nossas próprias histórias. Claro que os cursos de escrita criativa, os livros, os podcasts ou os painéis com escritores também ajudam. Mas temos que estar preparados para investir o nosso tempo, suor e lágrimas (e quem sabe, sangue), quer queiramos ser escritores profissionais ou apenas escrever bem pelo gozo que isso nos dá. O meu rabo está firmemente assente na cadeira e os meus dedos estão preparados para sangrar (q.b.). E vocês? Para acabar em grande deixo-vos com um excerto de "On Writing" de Stephen King. "You can approach the act of writing with nervousness, excitement, hopefulness, or even despair—the sense that you can never completely put on the page what’s in your mind and heart. You can come to the act with your fists clenched and your eyes narrowed, ready to kick ass and take down names. You can come to it because you want a girl to marry you or because you want to change the world. Come to it any way but lightly. Let me say it again: you must not come lightly to the blank page. I’m not asking you to come reverently or unquestioningly; I’m not asking you to be politically correct or cast aside your sense of humor (please God you have one). This isn’t a popularity contest, it’s not the moral Olympics, and it’s not church. But it’s writing, damn it, not washing the car or putting on eyeliner. If you can take it seriously, we can do business. If you can’t or won’t, it’s time for you to close the book and do something else. Wash the car, maybe." "On Writing - A Memoir of the Craft", Stephen King Que vos sirva de inspiração! Como já especulava o grande Douglas Adams, se soubéssemos exactamente porque este foi o último pensamento do vaso de petúnias, enquanto caia a pique vários quilómetros em direcção ao chão, saberíamos muito mais sobre a natureza do universo.
Infelizmente não sabemos, logo só nos resta especular! Mas não sobre vasos de petúnias. Esse assunto está mais que enterrado. Literalmente. Esta secção do Especulatório, e cujo nome lhe deu origem, procura assim ser um ponto de encontro e discussão sobre os mais variados temas. E se faltar variedade contamos convosco para nos darem ideias! Aqui vão poder encontrar todos os meses o nosso Clube de Leitura, onde esperamos que nos acompanhem na leitura e análise dos nossos livros favoritos ou das novidades do mundo da ficção especulativa. Possivelmente até já adivinharam qual será o livro deste mês. Será também um espaço para comentarmos os eventos, palestras e workshops em que participamos, assim como darmos a nossa opinião sobre temas transversais às outras duas secções do nosso website, Ler e Jogar. Por último, queremos falar sobre Escrita Criativa de Ficção Especulativa. Não porque somos profissionais ou mestres no assunto - longe disso- mas porque pretendemos reunir alguma da informação disponível por esse mundo fora, e talvez oferecer alguns conselhos, tanto para nosso próprio benefício (somos um bocadinho egoístas), como para vosso. Esperamos ter a vossa companhia nesta travessia e contamos sempre com as vossas opiniões e sugestões! Registem-se no nosso fórum para participarem na discussão ou deixem o vosso comentário! Até breve, C.S. |
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